Gerson Nei Lemos Schulz
A escola tradicional nasce com a Modernidade por volta do século XVI. Ela é profundamente influenciada pela tendência liberal de educação (liberal no sentido econômico, filosófico, social). Inicialmente a escola tradicional, como se conhece hoje, era revolucionária como é o caso da proposta de Comênio (1592-1670).
A escola tradicional que nasce com a Modernidade acusava a escola medieval de ser contemplativa, desvinculada do mundo real (do mundo moderno voltado para o comércio e para a indústria), de ser de inspiração religiosa, preocupada em formar uma classe de "nobres" que rapidamente caminhava para a falência.
Com o crescimento da classe burguesa, em ascensão, precisava-se de uma escola dinâmica, voltada para aquele mundo em rápida mudança, que formasse técnicos capacitados para o comércio e atividades industriais. Conseqüentemente surgiu também outra classe que não era proprietária dos meios de produção (os trabalhadores assalariados), e eles também precisavam de formação (mas de uma formação rasteira como o aprendizado dos rudimentos da escrita e do cálculo).
Aí aparece uma divisão na escola porque algumas se preocupam com o ensino dos ricos e outras com o ensino dos pobres. De acordo com Gadotti (História das Idéias Pedagógicas, 2005), a partir de Napoleão Bonaparte o Estado assume a educação visando fomentar o desenvolvimento das novas ciências: física, química, biologia.
Para Aranha (Filosofia da Educação, 1996) a dinâmica da escola tradicional quanto à relação professor aluno é magistrocêntrica (centrada no professor). O professor é inquestionável, detentor do conhecimento, modelo a ser seguido. Ele controla o processo de ensino e aprendizagem. O aluno é mero receptor de conteúdos. É passivo diante de um conhecimento pré-concebido e que é inquestionável porque tem valor comercial ou industrial.
A disciplina adquire grande valor e o esforço intelectual individual se sobrepõe ao coletivo, isto é, cria-se todo um conjunto de punições para castigar os perdedores (aqueles que não se saem bem nas provas) e de recompensas para premiar os mais competentes que obtém sucesso nas avaliações. Logo, esse tipo de escola é bastante seletivo e até hoje, baseado nele, tem-se o vestibular.
Quanto ao método, baseia-se em aulas expositivas. O professor ministra conteúdos e depois "cobra de volta" na prova. O modelo também privilegia a memorização de informações mais que sua crítica. Para Gadotti (2005) esse seria o principal defeito do modelo tradicional.
A escola tradicional foi adotada pelos jesuítas, protestantes, iluministas e no século XIX pelos positivistas com Augusto Comte (1798-1857) com seu cientificismo e a crença de que a ciência (racional e técnica) poderia salvar a humanidade de todos seus malefícios.
Enfim, a educação da escola tradicional ainda é muito presente e pode-se concluir que ela parte de pressupostos empiristas e indutivistas. A filosofia empirista afirma que nenhum conhecimento chega ao intelecto sem antes passar pelos sentidos, o mesmo acontece com a escola tradicional, ou seja, seu currículo, ao se preocupar com a realidade dos problemas práticos, privilegia a experiência e não a abstração. Ao mesmo tempo ela é indutiva, parte de problemas particulares para problemas universais, transmitindo a idéia que se uma teoria resolveu mil casos, poderá resolver todos os casos semelhantes, sem considerar a exceção.
Elinete de S.P Queiroz
ResponderExcluir"A Tendência liberal e suas influências na escola tradicional"
A educação da escola tradicional como foi mensionada no artigo, ainda é muito presente em nossos estabelecimentos de ensino. Todo processo educativo se subordina à sociedade que lhe impõe modelos, determina objetivos e lhe provê condições e meios de ação.
Se usamos a expressão: “ a educação é socialmente determinada”, teremos que reconhecer as partes integrantes da sociedade: a qualidade e as formas de suas relações sociais, políticas, econômicas e culturais, sua estrutura dividida em classes e grupos e seus interesses antagônicos. A organização humana é historicamente constituída e desenvolvida nas dinâmicas das relações sociais.
Observe algumas frases que ouvi várias vezes durante minhas atividades em sala de aula: “Os alunos repetem o ano porque não esforçam-se”; “Tem alunos que não aprendem mesmo”; “Sua nota é bem merecida”.
Como mencionado no artigo, cria-se um conjunto de punições para castigar os “perdedores”.
As avaliações, em vez de permitirem avaliar o aprendizado, os acertos e os erros do processo desde o primeiro momento, parecem dizer: “Isto é o que vai acontecer com você se continuar do jeito de esta!”. E esta mensagem, encorajadora para alguns, ameaçadora para muitos, espelha o jogo de poderes, refletindo quem detém o poder.
A questão do vestibular, em muitos casos, tornam-se apenas representações escritas de algo mecânicos que apenas foi memorizado.
Com a influência na escola tradicional, o papel da escola é difundir a instrução, transmitir conhecimentos sistematizados logicamente e o professor, transmitir conteúdos, o aluno aprender (conteúdos transmitidos) e o método, exposição verbal da matéria, dando ênfase aos exercícios, repetição e memorização, usando disciplinar a mente e formar hábitos.
“Para se perceber a significação de uma pedagogia, é necessário remontar até o seu elemento dominante: o saber ensinado. Que se diz e o que se oculta aos alunos? Como lhes apresentam o mundo em que vivemos? Para que ações os conduzem as palavras, os silêncios, as atitudes implícitas e explicitas dos mestres?”
Georges Snyders (1978:310)
Ótimo comentário! Agradeço.
ResponderExcluirRealmente a escola tradicional não só está presente em nossa realidade, como também é interessante observar que muitos pais e até alunos (quando já adultos) exigem que o professor siga o estilo tradicional, por pensarem que este estilo é aquele que os tornará mais aptos ao mercado de trabalho. Não posso estender muito a discussão aqui neste espaço, mas deixo as perguntas: por que tantos pais e alunos exigem este estilo do professor e só matriculam seus filhos nas "melhores" escolas (que geralmente são tradicionais)? É o mesmo que perguntar: por que pais ateus, às vezes, matriculam seus filhos em escolas católicas?
Um abraço.
Joelson da Silva Miranda (6 Filon IESAP)
ResponderExcluirOlá professor!
Praticamente a escola tradicional surgiu para satisfazer as necessidades da sociedade moderna como você citou no artigo, formar profissionais que mais tarde podussem utilizar esse conhecimento no trabalho, é um período recheado de construções de teorias, de produção intelectual, é o desenvolver das ciências depois de um período em que predominou a influência da Igreja Católica, percebe-se claramente um otimismo na escola, no sentido de se sentir poderosa pelo fato de ser detentora do conhecimento, achando-se autosuficiente a ponto de na sala não se construir uma relação dialética entre professor e aluno sendo as aulas expositivas e o aluno assistindo e aceitando pacivamente aquela realidade que lhe é apresentada.
Eu me formei na escola tradicional e vo dize, não tinha coisa melhor. Hoje vejo que meu filho não sabe, não aprende nada que preste. Chega em casa falando que não se interessa por política, economia. Acha que o governo tem a obrigacao de dar dindim para quem é pobre. Nada contra quem é pobre, mas tem que ralar para conseguir dinheiro, meu!
ResponderExcluirboa tarde, estou fazendo um trabalho de filosofia e gostaria de saber se tem algum filosofo que se enquadra com sua teoria sobre a tendência liberal tradicional.
ResponderExcluirlibera pra mim copiar pro wolrd e imprimir
ResponderExcluirEste texto é para ser citado e não copiado.
Excluirolá boa noite estou fazendo um trabalho e gostaria de ajuda pra uma pergunta q diz assim,explique por que podemos dizer q a escola tradicional é filha do liberalismo? se alguém pôder mim ajudar com essa questão eu agradeço muito de ja obg👏
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