Gerson Nei Lemos Schulz
No Brasil ainda é novidade, mas nos E.U.A há o Institute for the Advancement of Philosophy for Children que se preocupa com o desenvolvimento do raciocínio infantil. Por isso Mathew Lipman se preocupou com o ensino de filosofia nas séries iniciais. Para ele, desde suas origens, a filosofia tem sido a única disciplina capaz de dar os critérios que tornam possível distinguir entre bons e maus raciocínios. Ela também se preocupa com o desenvolvimento das habilidades de raciocínio, o esclarecimento de conceitos, a análise dos significados e com o cultivo de atitudes que levam a questionar, investigar e tentar, de várias maneiras, buscar os significados e a verdade.
Mathew Lipman 1922-2010 |
Por exemplo, depois de ler e encenar uma novelinha filosófica sobre o conhecimento científico e o conhecimento de senso-comum onde os personagens são: a Terra, a Lua e o Sol, o professor pode organizar um debate e por à prova as curiosidades da turma. Quando o professor percebe que algumas opiniões são errôneas, ele não dirá ao aluno que ele está errado. Assim, algum aluno pode afirmar que: "o Sol gira em torno da Terra." E outro pode dizer: " Não, é a Terra que gira em torno do Sol." Então o professor expõe as duas opiniões à classe que refletirá com base na novela que acabou de ler. Caso não saiba responder, o professor pede ao aluno que deu a primeira resposta para comprovar o que está dizendo. O aluno pode argumentar que quando ele está com seu pai num barco no rio Amazonas, às seis da manhã, o Sol se 'levanta'. – Ok! Essa é uma boa resposta. Dirá o professor. – Afinal, há lógica aí e a humanidade pensou que isso era certo durante todo o medievo.
Por outro lado, o professor pedirá à classe para refletir sobre o argumento do colega. Enquanto solicita ao outro que disse que a Terra gira em torno do Sol que comprove. Ele poderá afirmar: "a novelinha mostrou que nos eclipses lunares é a sombra da Terra que 'tapa' a Lua." – Outra resposta excelente! Poderá arrematar o professor. E aí? Pergunta-se às crianças. "Quem tem razão?"
Outro aluno(a) pode intervir: "A minha mãe disse que é o Sol que gira em torno da Terra." Outro(a) colega pode ponderar: "Quando acontece o eclipse do Sol é a Lua que 'tapa' o Sol." E ainda outro pode cogitar: "Eu visitei um planetário e vi que todos os planetas giram em torno do Sol." Por meio do método indutivo, o professor ajuntará os argumentos favoráveis à tese, e contrários para debater.
Enfim, o professor é mediador na discussão, não senhor da verdade. A tese que tiver a seu favor mais argumentos comprovados, vence. Então, no debate filosófico, são apontadas teses e antíteses que convergem para a síntese que se abre para nova tese.
Muito interessante tuas colocações!
ResponderExcluirProfº, já havia lido algo sobre Filosofia para crianças. Seria maravilhoso se de fato os dirigentes e as instituições escolares implantassem o ensino de Filosofia desde a educação infantil, pois é nesta fase que a mente está aberta a aprendizados importantíssimos para o prosseguimento na vida, e ainda mais para a formação humana. Precisamos debater melhor este assunto em nossas escolas e academias, pois acredito que se o contato com a Filosofia for proporcionado aos alunos desde cedo, certamente teremos chances de que no mundo encontremos pessoas que tenham capacidade reflexiva e, além disso tenham atitudes mais condizentes com as realidades que se configuram. Parabéns pela iniciativa de abordar esta temática em seu artigo, pois já havia presenciado discursos academicistas de que não existe Filosofia para crianças.Um abraço
ResponderExcluirProfª gostei muito de suas colocaçoes...
ResponderExcluirmas sera que isso funciona com atividades fisicas, ou atividades socio-educativas...???
Prezado André,
ResponderExcluirObrigado por seu comentário. É fato que a chamada "Filosofia para Crianças" ainda é inicial no mundo e no Brasil. Sua pergunta é muito interessante para pensarmos que filosofia (que visão de mundo; que cultura; que valores) estão por trás das atividades físicas como, por exemplo, a capoeira?
Ela é só uma luta? É só educação para o corpo? Creio que não. Trata-se de expressão de uma cultura massacrada, colonizada por outra. A comunidade praticante de atividades físicas (capoeira ou não) poderia registrar por escrito ou resgatar as raízes dessa expressão de identidade cultural da África para poder nortear ações futuras e, quem sabe, tornar a capoeira um mote educacional. Está aí um bom campo para pesquisas futuras.
Quanto às ações sócio-educativas, trata-se de uma política pública que precisa ser melhorada, a pergunta que faço aos pedagogos é: é possível conscientizar pessoas fragilizadas pela miséria, violência e pelas drogas apenas com discurso?
Um abraço!