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sábado, 29 de janeiro de 2011

NIETZSCHE: A "TEORIA DO NADA"

Gerson Nei Lemos Schulz


Nada! Vazio! Sem sentido! Ausência! Sem referência! Não existir! Coisa alguma!



"Nihil", aquele momento da existência em que tudo que se conhece faz a volta completa no marco zero. Tudo volta a ser tudo e volta a ser nada. Surge um abismo! Não sentir, não querer, não viver. A condição limite mais extrema, por isso limite. Condição negativa da psique!



É isso que se percebe ao se ler Nietzsche (1844-1900) que dizia: "prefiro querer o nada, a nada querer." Era sua forma de dizer que estava vivo, que "em uma estrela azul cintilante inventara-se o conhecimento, ainda que por um breve momento da existência." E que se tudo se congelasse, de repente, fora-se o homem; nada mais restaria, pois fora apenas um instante, mas, ao menos, teria existido o homem. O homem que, para Nietzsche, era apenas uma corda estendida entre o animal e o além-do-homem (como diz em seu Zaratustra), o homem novo. Aquele que se supera a si mesmo, que escapa da mediocridade, do momento mais prófugo da própria existência.



Para Nietzsche a vida moderna nos relegou à mediocridade porque ela é cheia de dinheiro, mas também cheia de doença e todo dinheiro que o homem moderno ganha é para gastar com sua doença, a morte. A guerra franco-prussiana (na qual Nietzsche atuou como enfermeiro), as rivalidades entre os Estados-Nação europeus, a disputa violenta por mercados, a colonização da África. Tudo isso Nietzsche considerava indícios de uma doença, a doença da civilização européia. Por isso ele escreve em "O filósofo como médico da civilização" que o filósofo é o médico que cura a doença do espírito, aqui entende espírito tal qual a cultura.



Assim, em uma pequena obra: "Sobre o futuro de nossos estabelecimentos de ensino", Nietzsche prega que a educação é sempre reflexão, que nunca pode ser repetição, mas ele não quer dizer, com isso, que se deva jogar na lata do lixo tudo o que a civilização construiu até aqui, é claro que não há conhecimento "descartável", é preciso não partir do "nada" para não se cair no mesmo "nada". Para isso ele sugere que os estudantes se concentrem nos autores, idéias ou teorias já existentes, que ele chama "cultura", mas que a educação, que para ele pode ser oposta à cultura, faça a reflexão permanente sobre o que chamamos cultura. Quer dizer, Nietzsche alerta para a possibilidade de o homem cair no vazio, presa de suas próprias criações à medida que não as pensa mais nem pensa sobre as ações que executa, pois as executa sem pensar qual é seu sentido.



Que sentido tem ir todo dia trabalhar, estudar, produzir, caso o fruto de tais ações não esteja voltado para a totalidade? Isto é, pensar apenas em si mesmo é garantir seu bem-estar? Ou garantir o bem-estar é pensar no coletivo? É nesse sentido que a obra de Nietzsche, hoje, serve para refletir sobre a vida atribulada que temos. Compromissos, falta de tempo para os filhos, para a esposa, corre-se sempre atrás de mais interesses para quê? O cemitério aguarda a todos!

É isso que significa cair no nada!

Vamos todos morrer? - Sim, então que a vida valha a pena! Que o que fazemos não seja apenas para mover a roda medonha do capitalismo. Que possamos dar sentido a todas as nossas criações sem que sejamos engolidos pelo pseudo-sentido que elas têm para nós.