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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

CÍRCULO DE VIENA: O TRISTE FIM DO PROFESSOR MORITZ SCHLICK

 Gerson Nei Lemos Schulz


Fazia dias que Moritz Schlick (1882-1936) estava preocupado, pois um de seus alunos, a quem havia dado uma nota baixa em um trabalho, o ameaçava de morte. Ele até procurou a polícia para pedir proteção, mas nada conseguiu, porque naqueles dias de 1936 a Áustria estava cheia de policiais simpatizantes dos nazistas, e Schlick não gostava dos nazistas.
Porém, antes dessas ameaças, ele fundou, em 1924, com Otto Neurath (1882-1945), Olga Neurath (1882-1937) e Rudolf Carnap (1891-1970), o Círculo de Viena. Movimento conhecido internacionalmente. De acordo com Reale (História da Filosofia, 1991, p. 992) ele era professor de Física, mas tendeu para a Filosofia.
O objetivo do Círculo era fundamentar a Filosofia, na época, em declínio frente à Física e à Matemática, como ciência de rigor. Não se pode negar que em suas teses gerais as idéias de Kant (1724-1804) estão presentes, especialmente, os juízos analíticos e sintéticos a priori e a posteriori. Mas, o Círculo, também, seguia o Positivismo de Augusto Comte (1798-1857), que renovara como neopositivismo, pois, para eles, só há sentido nas proposições que podem ser verificadas empiricamente, que vem da experiência sensível. Com isso, Teologia, Metafísica, Ética e Moral são relegadas ao nível do sentimento e se tornam irracionais, portanto, não podem ser ciência.
O Círculo queria: 1) uma ciência unificada, abrangendo os conhecimentos da Física e demais ciências naturais; 2) que o método para esse fim fosse a análise lógica; 3) que o resultado disso fosse a clarificação dos conceitos da Matemática e a eliminação da Metafísica; diz Zilles (Teoria do Conhecimento, 2006, p. 210).
Caso isso seja verdade, só é possível investigar proposições empiricamente verificáveis como, por exemplo: "água e óleo não se misturam." Esta é uma afirmação empírica, porque é verificável. Já dizer: "Deus existe" é uma proposição sem sentido, porque não pode ser verificada empiricamente. Logo, a Metafísica perde o sentido.
Para Zilles, Schlick também reformulou a teoria Kantiana dos juízos, afirmando que só há juízos analíticos (os juízos da Matemática e da Lógica), e os sintéticos a posteriori. Destarte, afirmar que "João estava vivo quinze minutos antes de morrer" é uma tautologia, isto é, um conhecimento evidente que não acrescenta nada ao saber, por ser óbvio. Para Schlick, isso é o mesmo que afirma a Matemática, ao dizer:" 7 + 5 = 12".
Por outro lado, há os juízos sintéticos a posteriori que provêm da experiência empírica, por exemplo: "esta rosa é vermelha". Alguém só pode dizer isso depois que viu a rosa. Para Schlick, todo o conhecimento ou é lógico ou é empírico. Por conseguinte, à Filosofia caberia apenas fundamentar as ciências empíricas por meio da Lógica. De tais discussões surgiram importantes temas de Filosofia da Linguagem, como as linguagens artificiais, hoje empregadas nos computadores e na robótica, e os estudos de relação entre semântica e sintaxe.
Enfim, a mente brilhante de Schlick foi eclipsada, quando em uma manhã, 22/06/36, o professor subia as escadarias da universidade de Viena e, ao topar com o infeliz e perturbado aluno, Johann Nelböck, este o surpreendeu com um tiro de pistola, acertando-o no peito e matando-o na hora.