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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

AMOR OU PAIXÃO?

Gerson N. L. Schulz




Foi em um domingo à noite em que eu estava na orla da cidade de Macapá, próximo de um bar com música ao vivo, que presenciei uma cena triste: um casal de namorados brigando. Enquanto ela dava sapatadas nele, ele se defendia argumentando que não a tinha traído. A partir disso nada melhor do que refletir sobre o amor e a paixão. O que é amor? O que é paixão? Há diferença entre ambos?


Para a filosofia clássica, nascida do seio da Grécia antiga, era possível se cultivar o amor. Mas ele não era um ser vivo, embora pudesse morrer. E, conquanto, se possa morrer de amor, como em "Romeu e Julieta", ainda assim o amor é entidade metafísica. A paixão, não obstante seja manifesta, também é.

A herança grega nos deu cinco tipos de amor. O amor ágape, um tipo de amor que ficou mais conhecido com o advento do cristianismo por ser o amor que o deus judaico-cristão sentiu pela humanidade, criando-a; por pura gratuidade já que Ele é perfeito e não precisaria da humanidade para nada. Os outros tipos são bem mais humanos. Em segundo tem-se o amor filia, aquele que pais e filhos sentem mutuamente, designa também o amor entre amigos. Em terceiro há o amor eros, aquele amor que desperta a paixão, é o amor que aproxima dois seres, desencadeando uma série de sensações agradáveis. Mas este não é passageiro como a paixão.

Platão
Em quarto e quinto estão o amor platônico e o amor pornéia. O amor platônico (em filosofia) não é o mesmo que no senso-comum. Ele significa amor ao belo, às formas, é amor do intelecto. É amor que não usa os sentidos. É por isso que no senso-comum se diz que é o amor em que os amados nunca se tocam.

Há ainda o amor pornéia, de onde deriva pornografia. O pornô é aquele amor que não tem compromisso algum. É o sexo feito com a garota ou garoto de programa. Onde o que importa é a relação sexual para satisfação imediata.

Quanto à paixão, é Aristóteles (384-322 a.C.) quem trabalha melhor esse conceito evidenciando que ela é pathos (de patológico). A paixão é algo que subtrai a razão. Domina a ação. Por isso alguns crimes se dizem passionais, em função de que o indivíduo sofre a ação de seus próprios instintos e estes dominam sua vontade que perde a liberdade.

Por fim, a paixão se diferencia do amor na medida em que é puramente carnal, irracional, não é ato de uma vontade livre, é fruto do desejo (embora para a justiça isso não retire a responsabilidade). O conceito amor envolve também noções de moral, ética, preservação, fidelidade (não necessariamente conjugal). A capacidade de amar parece constituir parte do intelecto humano, pois mulheres e homens amam-se a si mesmos mas não se apaixonam por si mesmos. Então a paixão constitui-se em pathos, algo anormal que pode se confundir com o amor. Porém, é claro, nem sempre ela é negativa, às vezes ela causa bem estar, ainda que momentâneo. Já o amor está ligado à ideia de continuidade na relação, de querer estar junto, de transcendência do sexo.

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