SEÇÃO "CRÍTICA AO COTIDIANO"
Gerson N. L. Schulz
Professor
O aluno universitário medíocre é, por excelência hoje,
aquele que não sabe escrever. Ele é um analfabeto funcional e pensa que o
professor é obrigado a relevar todos os seus erros de português quando lhe pede
para escrever uma redação de uma página onde, inclusive, tais erros, prejudicam
a compreensão do texto apresentado.
O aluno universitário medíocre de hoje se comporta sempre
como o "coitado", o excluído, a vítima do sistema. Ele pensa que
geralmente sua condição material e a origem humilde sempre garantirão a ele as
benesses de não precisar se submeter a horas de estudos como os colegas que
mais se destacam no curso. Ele despreza os colegas que sabem que o mercado de
trabalho está cada vez mais exigente e acusa aqueles de serem "coniventes"
e puxa-sacos.
O aluno medíocre de hoje "acha"
"legalzinho" ser de "esquerda" porque isso pega bem. Adora
dizer que não é capitalismo e sim "capetalismo", mas evita andar de
"busão" tanto quanto pode. Admira carros caros que sonha em ter um
dia e gosta de roupas de marca que compra em doze vezes no cartão de crédito
universitário com o salário da bolsa pesquisa ou extensão que algum professor
"bonzinho" lhe concedeu para parecer "humanista" e
"solidário". Para o aluno medíocre, qualquer um que discorde dele é
de "direita", portanto, mau!
Para o aluno medíocre é essa "fachada identitária"
de "pobre" (que não passa do fato de ter pena de si mesmo), que deve
obrigar os professores a lhe dar notas, a facilitar as avaliações e a abonar
suas faltas.
O aluno universitário medíocre de hoje tem a mediocridade
como algo estético e que deve ser vivenciado em sua máxima plenitude nos anos
em que ele passa praticamente em branco (porque se comporta como um inútil),
dentro da universidade, ocupando o lugar de outro aluno que queria estar ali e
que talvez não fosse tão medíocre quanto ele.
O aluno universitário medíocre pensa que ele vive no reino
do Gondor (o reino fictício do "Senhor dos Anéis") ou em Hogwarts (de
Harry Potter), que são lugares por onde anda, geralmente, a mente do
universitário medíocre. Lugares em que sempre tem um vilão que o persegue que,
para ele é sempre o professor – mas é um tipo especial de professor, é aquele
que exige dele que estude, leia e produza trabalhos de qualidade e não plágios
de ideias alheias ou cópias da internet.
Esse tipo de aluno (cuja parcela está diluída nas turmas
universitárias) pensa isso porque sua mente vive uma ilusão, a de acreditar na
fantasia de que a universidade é um reino encantado onde tudo e todos estão à
disposição dele. Onde o professor é seu empregado. Onde se ele faltar para uma
prova (porque não estudou) é fácil comprar um atestado 'frio' de um médico que
vende logo ali na esquina – porque é também um médico medíocre que não é capaz
de ganhar dinheiro com a medicina de forma mais refinada que vendendo
atestados.
O aluno universitário medíocre de hoje faz a prova de
segunda chamada confiante que o professor lhe deve o favor de deixá-lo fazer.
Para ele a universidade é um reino onde até o almoço deve ser eternamente de
graça e no dia em que não for, ele esperneia, berra e grita aos quatro cantos
que o sistema o está oprimindo, discriminando.
O aluno universitário medíocre pensa que a universidade é
lugar para fumar maconha ou se entregar às bebedeiras porque para ele essa
instituição é sinônimo de status social e de lugar onde se pode fazer tudo o
que se quer. Há alunos tão medíocres que trocam de curso várias vezes apenas
para continuar ganhando a bolsa que lhes permite morar na casa do estudante por
anos. Assim não precisam pagar aluguel, trabalhar e deixar de parasitar, coisa
que é sua especialidade.
Há alguns alunos universitários medíocres que se candidatam
(e vencem!) para ocupar um ou outro cargo nos DCEs e DAs para aparentar que são
"intelectuais políticos" dentro da universidade e para ter mais uma
desculpa para faltar às aulas, além de aumentar as chances de namorar as
meninas que se atraem por este tipo de "caras".
O aluno universitário medíocre pensa que a sala de aula é
uma extensão do seu quarto porque ele entra sem bater, chega a hora que quer,
sai sem pedir licença, escuta música, fala ao celular. Não respeita o
professor, e quando o professor pede silêncio, diz para todos que é seu direito
de expressão que está sendo cerceado.
No banheiro não sabe nem usar a privada porque acredita que
a faxineira terceirizada (paga pela empresa que a contratou com parte do
dinheiro público do Estado – que para ele é sempre mau e opressor) está ali
para limpar sua sujeira.
O aluno medíocre comemora quando um professor falta a uma
aula porque ganha mais uma oportunidade de parasitar a sociedade que paga a
vaga que ele ocupa na universidade. Esse tipo de aluno também comemora quando há
greve, quando falta energia elétrica à noite em dia de prova. O aluno
universitário medíocre é aquele que sempre paga com "outros favores"
quando os membros medíocres do grupo de trabalho ao qual está vinculado em sala
de aula assinam por ele – na hora da entrega – mesmo sem ele ter participado do
desenvolvimento das atividades.
O aluno universitário medíocre é aquele que se vangloria do
que não fez e não assume as coisas que realmente faz. É aquele que pede a um
colega solícito e ingênuo que assine seu nome na lista de frequência quando não
está na sala de aula. É aquele que quando é reprovado, pensa que é seu direito
falar o que bem entende para quem quer que seja, mandando e-mails desaforados
para o professor ou denegrindo-o nos grupos de facebook da turma onde só entra
quem a turma permite.
Outra especialidade desse tipo de aluno é construir
discursos sempre positivos sobre si mesmo, alegando que sempre foi um aluno
exemplar ao longo do semestre e que não merece ser reprovado. Ele esperneia por
seus direitos e afirma que é sempre perseguido pelos professores, pela
instituição, pelo governo, pelo Estado e até pela polícia que, para ele, bate
nele apenas por um motivo: porque ele é estudante!
O aluno universitário medíocre se intitula "estudante
profissional" mesmo que isso não seja profissão alguma e nada signifique
no mundo real das pessoas vivas (onde estamos você e eu), mundo que para quem
vive em Gondor ou Hogwarts é, sim, uma quimera.
Mas apesar de estar cheio de alunos universitários medíocres
por aí, há um saldo positivo para quem não é um aluno medíocre: é que o aluno
universitário medíocre de hoje dificilmente escapará de sua mediocridade porque ele a
tem como "cultura". Ele é um parasita que vive flutuando na corrente
térmica como os urubus, e jamais saberá bater asas para alçar voos maiores,
diferentemente do que fazem aqueles que não se dedicam à mediocridade.
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