Por: Gerson Nei Lemos Schulz
Publicado originalmente no jornal
Tribuna Amapaense
na cidade de Macapá - Amapá
na cidade de Macapá - Amapá
em 2010, com o título:
"Casamento: uma instituição falida?"
O artigo de hoje faz uma reflexão sobre algo que, grosso modo, dizem que está em crise na sociedade: o casamento.
Já ouvi comentários a respeito, mas nunca tinha parado para pensar sobre o assunto. Certa vez - em 2003 - escutei um reverendo anglicano, na pequena cidade do interior gaúcho chamada Canguçu, contando que um casal o procurou pedindo para marcar a data do casório, ao que ele, quase gritando, disse: "vocês estão batendo bem da cabeça? Casar? Hoje em dia o casamento é uma instituição falida!"
O casal ficou espantado com o reverendo e foi embora, mas depois de uma semana retornaram à igreja e marcaram a data, decididos.
Mas o que me levou a escrever hoje sobre o casamento foi um fato estranho que presenciei de dentro de um ônibus em que estava em um fim de tarde de um domingo pós-moderno quando passava férias na interiorana cidade de Pelotas, no RS. Em uma esquina, ao por do Sol, o ônibus urbano parou para aguardar sua vez de atravessar o trânsito quando apareceu na calçada uma noiva acompanhada de um senhor que deveria ser seu pai. Fiquei espantado de ver que alguém dentro do ônibus disse alto: "olha a noiva!"
O tom era de galhofa. Imediatamente todos os passageiros olharam a cena: a "mulher cruzando a rua" como se ela estivesse fantasiada para o carnaval. Como se a roupa dela representasse mesmo algo obsoleto. O cobrador do ônibus olhou para alguns passageiros sorrindo como se estivesse com pena da "noiva". Várias pessoas riram da mulher vestida de noiva.
Bem, o fato é que hoje em dia, com a mudança dos costumes tradicionais e a crise das igrejas cristãs (seu enfraquecimento), se têm os prazeres do casamento sem se ter seus compromissos (isto é, é fácil, muito fácil, conseguir sexo casual sem ter que se casar com alguém), por outro lado o sabor deste tipo de relação está em saber-se que no dia seguinte segue cada um para sua casa. Homem e mulher ficam "livres" para procurar em outra noite mais uma "transa". Alguns pensam que isso é um "pecado", uma involução dos costumes, mas penso que não. O casamento é uma instituição, um contrato que foi legitimado por um discurso dominante na Idade Média (no Ocidente), o discurso católico. Segundo Freud, as primeiras civilizações proibiram o incesto e estabeleceram a "troca" de mulheres com outras tribos ou grupos para estreitar laços de parentesco, isso é uma possibilidade... não uma verdade!
Mas na idade mais primitiva da humanidade um homem tinha relações com o maior número possível de mulheres e não só para procriar, mas para ter prazer. Sexo era uma necessidade como qualquer outra. A mesma coisa as mulheres (assistam ao filme 'Guerra do Fogo').
Nesse sentido o homem (e mulher) não é um ser monogâmico, ele é polígamo, e arrisco dizer "por natureza". Então por que se espantar se hoje em dia sexo (muitas vezes promíscuo) é algo tão popular? Apenas o que acontece é que deixamos de lado o superego da moral cristã para nos dedicarmos a libertar aquilo que estava recalcado: o Id (instintos mais primordiais). Conceitos como "fidelidade", "até que a morte os separe" e etc. são invenções da moral racionalista e cristã (já dizia Nietzsche).
Nessa perspectiva um homem ter mais de uma mulher, e vice-versa, é o "normal". Há várias sociedades na África (que são muito mais antigas que a Europa) em que as mulheres têm vários maridos. Em contrapartida, em alguns países árabes, os homens têm mais de uma esposa. Quem disse que ter apenas um marido ou esposa é o correto? Essa idéia é bem burguesa, faz entender que o outro é uma "coisa" que pode ser possuída. "Meu marido", "minha esposa". Quem pertence a quem? Que autoridade tem uma igreja, um "livro sagrado", para dizer o que as pessoas devem ser ou fazer na vida privada? Acredita nisso quem quer...
Mesmo assim meus parabéns à noiva, embarcou no sonho medieval e moderno, também judaico-cristão que acredita que o mundo deveria ser perfeito como é o "céu" das igrejas.