Gerson Nei Lemos Schulz
Artigo originalmente publicado no Jornal Leia Agora
A partir do início da modernidade, que ocorreu por volta de 1453 com a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos, os reinos europeus adotaram uma nova forma de organização econômica que gradualmente deixou para trás o feudalismo (sistema de vassalagem submissa à nobreza onde o Estado era submisso à igreja Católica) e adotaram outro, voltado para a produção de grandes quantidades de mercadoria, para o comércio dessas mercadorias e onde retorna o uso de moedas em larga escala. Aí o lucro passou a motivar tal atividade.
Adam Smith (1723 - 1790) |
Para Adam Smith, considerado o "pai" do capitalismo moderno, o sistema capitalista visa o lucro sobre atividades de comércio e indústria e o liberalismo é sua ideologia. Assim, liberalismo é a doutrina que admite que todos os homens são livres e a livre inciativa, o empreendedorismo e as capacidades individuais são sobrepostas ao coletivismo. Por conseguinte, o Estado liberal é burguês porque defende a propriedade privada.
Mas independentemente das discussões sobre o sistema econômico, em relação à educação e às tendências pedagógicas ocorre que o liberalismo também está presente na escola. Atualmente a tendência liberal é alicerce de outras tendências como a da escola tradicional, escola nova e escola tecnicista que serão discutidas em outra oportunidade.
Segundo Aranha (Filosofia da Educação, 1996) uma educação liberal parte do princípio que cada um dos homens é diferente do outro, portanto em uma sala de aula explica-se a diferença de notas entre um aluno e outro obtida nas provas, ou seja, a explicação para esse fato oferecida pela tendência liberal é que nem todos têm as mesmas capacidades, uns são, necessariamente, mais inteligentes que outros, daí a diferença entre as notas. É como em um concurso público, os mais capazes, mais preparados, conquistam uma vaga.
Tal como é na escola, entre as empresas, ocorre a livre concorrência onde aquelas em que seus proprietários são mais competentes se mantêm no mercado, e onde aquelas em que seus proprietários não são tão capazes fecham as portas. A tendência liberal em educação diz que na escola o professor deve incentivar a livre concorrência entre seus alunos, pois isso além de prepará-los para o mercado de trabalho altamente competitivo, faz emergir suas qualidades pessoais.
Quanto ao professor, a escola liberal afirma que ele deve se qualificar porque a competição vale para todos, independentemente de sua função. O liberalismo acredita que se todos buscarem a livre concorrência a sociedade evoluirá cada vez mais para um estado ótimo de qualidade de vida, especialmente porque com cada membro que a compõe dando o máximo de si estarão garantidos os benefícios econômicos que podem ser reinvestidos na própria sociedade.
Por fim, sabe-se hoje que este projeto deu certo em parte, pois a livre concorrência entre indivíduos proposta pelo liberalismo não leva em consideração fatores externos, um exemplo ilustrativo é o caso de um aluno brilhante que no dia do vestibular fica muito resfriado e febril, será que em tais condições ele fará uma boa prova e conquistará sua vaga na universidade? O liberalismo também não leva em consideração a origem social das pessoas partindo do princípio que todos, mesmo indivíduos com mais ou menos capital têm, necessariamente, as mesmas condições de obter sucesso em algum empreendimento, seja conquistar uma vaga na universidade, seja garantir a continuidade de uma empresa dentro da livre-concorrência.