SEÇÃO PERGUNTARAM PARA MIM
Gerson Nei Lemos Schulz
Professor de filosofia no Brasil
E eu respondi...
Quando me perguntaram se eu era contra ou a favor dessa ideia de ensinar filosofia de forma obrigatória no ensino superior (assim como é obrigatório no ensino médio), eu respondi: "sou contra porque penso que só se 'aprende' filosofia fora
de um curso de graduação em filosofia se for 'na prática' (se aprende
a ser ético sendo ético, se aprende política sendo cidadão, se aprende lógica
usando-se o bom-senso). O aporte teórico é importante, mas não me parece fazer sentido se for simplesmente teórico e essa disciplina meramente 'decorativa' na matriz curricular de qualquer curso que seja.
Filosofia, supostamente, é reflexão. Logo, não se pode
forçar alguém a pensar. Para pensar, a pessoa deve querer pensar. Além disso,
estudar as ideias de Platão, Aristóteles, Agostinho, Descartes, Kant, Nietzsche
não é estudar filosofia, muito menos aprender filosofia.
Filosofia é saber dar 'vida' aos textos daqueles autores e,
para isso, não basta técnica, é preciso ter experiência de vida e tempo; e os
jovens, não porque sejam incapazes de modo geral – embora alguns o sejam por vários motivos, por exemplo, para entender filosofia, assim como outros o são para entender matemática –,
mas porque não têm tempo e estão preocupados em ter uma profissão que lhes
garanta o pão.
É certo que a filosofia 'pura' no mundo pós-moderno não garante o pão, a não ser para poucos professores de filosofia ou para poucos filósofos profissionais. Mas daí a obrigar alguém
a estudar filosofia na universidade – fora do curso de graduação em filosofia
onde, suponho, os alunos estejam porque escolheram estudar naquele curso –, vai
contra o princípio de qualquer doutrina filosófica que é a liberdade de
pensamento.
Assim, não se espantem amigos! Só terá chances reais de
saber algo de filosofia quem – sendo de curso alheio à filosofia – escolher
cursar alguma disciplina dessa área. Repito: escolher.
Para concluir, é por isso que a universidade só poderá, na
melhor das 'boas intenções', ofertar disciplinas optativas de
filosofia; destarte, em doses homeopáticas e não como se fosse tratar um 'paciente
com câncer terminal' em que o medicamento também pode matar, mesmo que
ainda dê um alento a mais de vida, que é o que me parece que acontece quando se
despeja – indiscriminadamente – sobre um aluno comum mais de dois mil e quinhentos
anos de história da filosofia (e Nietzsche já alertava, desde o final do século
XIX, que mesmo as graduações em filosofia na Europa, para ele, não passavam de
cursos de história da filosofia), porque se for mesmo assim como alertava
Nietzsche, a filosofia se torna qualquer outra coisa, menos filosofia."
Nietzsche - 1844-1900 |