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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

SEMINÁRIOS CATÓLICOS PARA QUÊ?



Texto dos professores

Gerson N. L. Schulz Jones Talai

*Ex-seminaristas


Hoje se tem discutido muito sobre novos paradigmas educacionais na pós-modernidade. A pós-modernidade é caracterizada pela fragmentação de saberes e por discursos que tentam se validar pelo poder das mídias. Diante disso, há a necessidade de se buscar uma educação que seja inter/transdisciplinar, que fomente o pensamento crítico, que busque o diálogo com os diversos saberes da sociedade, que tenha abertura às novas possibilidades de conhecimento e que, ao mesmo tempo, possua segurança acerca de seu próprio método educativo e consistência epistemológica.

Ora, diante deste cenário, gostaríamos de refletir o que representa hoje os seminários teológicos da Igreja Católica, espaço onde há uma atividade pedagógica. Os seminários surgiram no séc. XVI como reação à Reforma Protestante. O espírito presente nesta realidade histórica original era o de uma ideologia totalitária que se tentava firmar como única verdade/realidade absoluta diante dos reformadores. Assim, pela educação, se pensou conter o avanço do Protestantismo na Europa.

Destarte, estes centros se constituíram como núcleos apostólicos que pretendiam formar homens capazes de levar adiante a fé católica. Desde então os seminários procuram formar sujeitos capazes de manter a imutabilidade de sua doutrina, mas que, muitas vezes, nesta tentativa heróica, falham escandalosamente quando se trata de formar pastores e homens de fé, justamente por não considerar a mutabilidade mundana e sua historicidade.

Por causa deste conservadorismo, a Igreja, como um todo, está se desvinculando do mundo real, não conseguindo acompanhar suas mudanças. Do mesmo modo produz pessoas deficientes para estabelecer diálogo com o mundo não-católico ou secularizado, ou ainda com o povo simples que se diz capaz de pastorear. Assim, os padres forjam um tipo de conhecimento que os distancia da linguagem coloquial e não os capacita sequer para entrar em diálogo com a comunidade científica. Seu saber tornou-se próprio de uma casta sacerdotal. Dentro disso, os seminaristas de hoje perderam o método epistêmico dos clérigos antigos e medievais e ficaram apenas com seu ranço conservador. Se há poucos anos os padres que eram formados no rigor da Escolástica, sob a maestria lógica de Tomás de Aquino, se perguntavam qual a validade de estudar o Tomismo, os seminaristas atuais (epistemologicamente perdidos) perguntam: o que é o Tomismo?

Portanto, até que ponto os seminários com esta proposta pedagógica poderão educar seus estudantes para o sacerdócio? E será que a ignorância intelectual dos neo-sacerdotes não comprometerá o edifício eclesial construído pelos "nostálgicos gerontocratas" da Igreja?