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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

MAQUIAVEL E A POLÍTICA MODERNA

Gerson Nei Lemos Schulz




Nicolai Maquiavel (1469-1527) é considerado um divisor de águas na política mundial. Até a composição de "O Príncipe" a filosofia política era voltada ao dever ser e a política estava ligada ao idealismo, pois se acreditava que a moral mudaria a realidade egoísta do homem.
Em "O Príncipe" Maquiavel traz a política do mundo ideal para o mundo real. A constatação central de sua obra é que os políticos não estão interessados no bem comum do cidadão, o que realmente importa é o poder. O bem do cidadão vem com a consolidação do poder nas mãos do governante (o príncipe).


Maquiavel para o senso comum, é considerado um indivíduo perverso que dá dicas aos príncipes para enganarem o povo, invadir territórios, angariar riquezas e usar golpes para atingir o poder. Mas não é Maquiavel o primeiro a mencionar o "jogo político". Ao contrário do que se pensa, ele descreve o que os políticos florentinos já faziam. É injusto atribuir a Maquiavel a alcunha de malévolo, intriguista, usurpador. Seus escritos também preveniram o povo das manobras dos políticos, o fato é que o povo não leu Maquiavel.
Intrigas e perseguições vitimaram o próprio Maquiavel que sofreu exílio e esquecimento ainda vivo. O autor não ensinou a trair, roubar ou ser antiético. Ele fundou nova ética que não era idealista nem cristã, cuja visão antropológica parte da idéia de que o homem é egoísta. Para ele a ética não é aquilo que busca o belo e o bom, mas o que busca a "virtù". "Virtù" é um conjunto de qualidades que o governante deve ter para bem governar. Então, se um país está em guerra é necessário que o dirigente seja cruel para vencer o conflito, não importando o que faça para isso. Caso o Estado corra o risco de uma revolta, o governante deve massacrar os revoltosos, pois manter o poder é o que importa.

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No cap. XVII de "O Príncipe" Maquiavel discute se é preferível ao governante ser amado ou temido, ao que responde que é preferível ser temido, embora no cap. XIX afirme que o governante deve se esforçar para jamais ser odiado, pois isso o faria viver o tempo todo em clima de hostilidade contra tudo e todos, oprimido pelo temor da deposição. Então, como deve ser o governante na visão de Maquiavel?
É no cap. XVIII que ele afirma que o governante deve se comportar como a raposa e o leão, pois o leão sabe afugentar os lobos e a raposa evitar armadilhas. Por isso ", diz Maquiavel, [...] é bom ser e parecer piedoso, fiel, humano, íntegro e religioso; mas é preciso ter a capacidade de se converter aos atributos opostos, em caso de necessidade. [...] Precisa, portanto, ter a mente apta a se modificar conforme os ventos que sopram, seguindo as variações da sorte – evitando desviar-se do bem e se for possível, mas guardando a capacidade de praticar o mal, se forçado pela necessidade."
Enfim, o político ideal para Maquiavel é o das "aparências". Deve parecer cheio de qualidades, mas essas qualidades não devem ser seus princípios porque o princípio do político é mudar de lado (para o lado do poder) como muda o vento e, assim, manter-se no poder.