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sábado, 14 de agosto de 2010

O RACIONALISMO DE RENÉ DESCARTES

Gerson Nei Lemos Schulz


Você é racionalista? Quantas vezes em seu dia-a-dia já se observou afirmando para alguém que não se precisa de nenhuma experiência para saber que determinada ação dará errado. Quantas vezes você já ouviu a famosa frase: "eu te avisei!"

Bem, quando alguém menciona a frase acima parece desprezar a experiência ou querer impedir que alguém passe por alguma situação que considera desagradável. Nesse caso essa postura pode ser considerada racionalista. E foi o filósofo e matemático francês René Descartes (1596-1650), considerado o pai do racionalismo moderno e também o pai da filosofia moderna, quem melhor sistematizou estas idéias. Descartes queria construir uma filosofia inspirada no modelo matemático, isto é, ele desejava que a filosofia e suas respostas especulativas fossem tão exatas quanto a matemática.

Para isso ele desenvolveu uma teoria do conhecimento e também um método, o método científico. Hoje ninguém concebe qualquer ciência sem a existência do método. Por isso pode-se considerar Descartes o primeiro filósofo a agir como cientista, ou seja, o mérito cartesiano (pois seu nome em latim é Cartesius) é associar a ciência ao método de pesquisa. Antes dele outras pessoas já tinham usado métodos científicos como Galileu e Copérnico, mas ele foi o primeiro a teorizar o próprio método. E é isso que garante a cientificidade da própria ciência, o método empregado pelo cientista. Pois é a partir do método que outros cientistas podem, ao repetir experiências, chegar ou não aos mesmos resultados garantindo a universalidade do conhecimento que, então, poderá ser aceito como verdadeiro.

Mas Descartes também tem outras facetas e uma delas é defender o racionalismo. Seu método é racionalista porque a evidência de que Descartes parte não é, de modo algum, a evidência sensível ou empírica. Ele diz que "os sentidos nos enganam, suas indicações são confusas e obscuras, só as idéias da razão são claras e distintas." Para ele o ato da razão que percebe diretamente os primeiros princípios é a intuição. A dedução limita-se a veicular a evidência intuitiva das naturezas simples. Logo, a dedução nada mais é do que uma intuição continuada.

Por exemplo, para Descartes não é preciso uma pessoa experimentar açúcar para saber que é doce, pois é o próprio homem quem afirma que o açúcar é doce porque antes de experimentá-lo já traz em sua "alma" (no cogito - no pensamento) a ideia de doce. O mesmo se dá com o salgado e os outros sabores ou odores. Então, no cartesianismo, as idéias têm total supremacia sobre a realidade, a própria realidade é formada apenas pelas idéias que temos dela. Descartes inaugura a subjetividade moderna em oposição à objetividade antiga e medieval. Agora é o homem quem diz o que é a realidade e não a realidade que diz o que é o homem.

Por fim, no cotidiano, grosso modo, qualquer postura que afirme que as idéias superam a realidade ou que elas têm supremacia sobre o real, pode ser considerada uma postura racionalista.