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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O QUE É ROMANTISMO?

Gerson Nei Lemos Schulz





Reale, Giovanni. 
História da filosofia: do humanism a Descartes. 
São Paulo: Paulus, 2004.
Você sabe do que se trata o Romantismo? Muitos pensam que ser romântico é ser "meloso" com o ser amado ou agir de forma sempre dócil e idealista com o mundo. Mas o movimento romântico alemão, interpretado de forma distorcida pelo grande público, não tem nada que ver com isso.


Albert Croll Baugh (estudioso da literatura inglesa) diz que o adjetivo "romântico" aparece pela primeira vez na Inglaterra por volta de meados do séc. XVII como termo usado para indicar o fabuloso, o fantástico, o irreal. Assim, foi resgatado dessa conotação negativa, que passou a ser usado para indicar cenas e situações agradáveis. Gradativamente o termo romantismo passou a indicar o renascimento do instinto e da emoção que o racionalismo do século XVIII quis suprimir.


Mas foi F. Schlegel quem relacionou o movimento Romântico ao romance. O fascínio pelo misterioso e sobrenatural e pela atmosfera de fantasia e heroísmo que dominavam o mundo medieval, ampliaram o sentido do qualificativo que, símbolo de uma nova estética, encontrou suas primeiras manifestações na literatura alemã. Pouco a pouco, o termo passou a significar as expressões épicas e líricas medievais e associar-se ao romance psicológico autobiográfico.



F. Schlegel
1772-1829
O Romantismo é também o movimento espiritual que envolveu a poesia, a filosofia e as artes. Ser romântico se caracteriza também por um comportamento psicológico e moral. Isso exige uma condição de conflito interior radical, uma dilaceração de si mesmo, provocando a tendência ao sentimento de insatisfação consigo mesmo, levando-se à busca de algo mais que, no entanto, escapa continuamente. Assim, Impetuoso e vital, o romantismo surgiu como um movimento que privilegiava a subjetividade individual, em oposição à estética racionalista clássica do Iluminismo representando a exaltação do homem, da natureza e do belo.

Como expressão do espírito de rebeldia, liberdade e independência, o Romantismo propôs-se a trabalhar com a perspectiva do misterioso, do irracional e do imaginativo na vida humana, assim como explorar domínios desconhecidos para libertar a fantasia e a emoção, e reencontrar a natureza humana primordial. A comprovação científica dos fatos substituiu o estabelecimento dogmático das verdades e o culto à arte tornou-se uma das principais alternativas de expressão da espiritualidade entre os intelectuais ocidentais. Filósofos e artistas como Hegel e Berlioz afirmaram que, para eles, a arte era uma religião.

Então, ser romântico, na origem da palavra, não tem o mesmo significado que o senso-comum dá hoje em dia. O Movimento Romântico elevou a figura do poeta a um papel central de profeta e visionário. A apreensão da verdade deveria se dar diretamente a partir da experiência sensorial e emocional do escritor. Os mitos do artista e do amante incompreendidos e rejeitados pela sociedade ou pela amada são criações originais do Romantismo. Nesse contexto J. W. Goethe escreveu Die Leiden des jungen Werthers em 1774 (Os sofrimentos do Jovem Werther), livro que foi acusado, na época, de induzir vários jovens ao suicídio. Logo, ser romântico é não se conformar nunca com o que se tem, mas também se ter consciência que nunca se atingirá o que se quer.