Gerson Nei Lemos Schulz
Nos artigos anteriores tenho buscado resumir bastante algumas metodologias filosóficas que servem para analisar a realidade, são elas: positivismo, materialismo histórico e hoje a fenomenologia. Mas o que é fenomenologia, afinal?
A fenomenologia é uma metodologia de análise ou interpretação da realidade criada por Edmund Husserl (1859-1938). Husserl era judeu e foi perseguido pelo nazismo. Ele também era matemático e estava descontente com o fato de a Filosofia ter perdido espaço para as ciências duras (matemática, física etc.).
De acordo com Ernildo Stein em "Uma breve introdução à filosofia, 2002" a fenomenologia de Husserl é a tentativa de superação da dicotomia sujeito/objeto. Isto é, desde que a filosofia surgiu, o homem pensa que existe uma realidade fora de si e um sujeito (o Eu) que analisa essa realidade. Caso isso seja verdade, então quer dizer que qualquer um de nós só sabe das coisas a partir de nós mesmos, ou seja, quando uma pessoa vê um objeto ela o vê por meio de seus sentidos e da decodificação que o cérebro faz dos dados transmitidos pelos sentidos. Mas e se os sentidos falharem? Não será errôneo o julgamento que o cérebro fará? Como um cego, alguém que use óculos ou esteja no escuro da noite poderá julgar com perspicácia? Como alguém poderá sentir se sua pele estiver contaminada com hanseníase? Quero dizer, são muitas as ocasiões em que os sentidos falham. Então Husserl, tentando superar a dicotomia sujeito/objeto, afirma que somente aquilo que o cérebro diz da realidade é a realidade.
Em outras palavras, ele quer dizer que aquilo que eu (o homem) representa da realidade é a realidade. Assim, um açaizeiro na floresta não é o mesmo açaizeiro dentro do meu (nosso) cérebro, pois o do meu (nosso) cérebro é uma representação.
Para Husserl, como julgamos e agimos a partir daquilo que achamos que a coisa é, então a nossa representação passa a ser a realidade sobre a qual agimos de fato. Esse processo Husserl chama de "epoché" (suspensão da realidade) ou "pôr entre parênteses" as coisas. Husserl diz que com isso poderemos ir às coisas mesmas ou à essência das coisas. Isto é, um açaizeiro pequeno não representa todos os açaizeiros, mas como o cérebro sabe que um açaizeiro adulto também é açaí? Husserl responde: porque o cérebro capta a essência do açaí (formato da árvore, frutos de cor roxa e etc.).
Então a capacidade do cérebro de conhecer os objetos se dá pela "essência", ou seja, da idéia que o cérebro tem das coisas. E Husserl afirma que a verdade não está nos sentidos nem no cérebro apenas, mas nos dois ao mesmo tempo, ou seja, na idéia porque é a partir dela que o homem age sobre a "realidade". O homem age em função de suas representações. A consciência também é intencional, isto é, o homem sempre analisa determinada realidade de acordo com sua intenção. Um exemplo tosco pode ilustrar: imagine que você perdeu uma chave e está desesperado para encontrá-la, ao olhar para o armário da cozinha várias vezes finalmente a encontra e fica feliz, mas como não estava procurando um incêndio não percebeu que no fogão ao lado do armário esqueceu um queimador aceso. Ou seja, você só viu o que queria ver, mas não toda a realidade que incluía um incêndio iminente, porque sua intenção era encontrar a chave.
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