Gerson N. L. Schulz
É filósofo, mestre em educação e foi professor
da
disciplina de Filosofia da Educação
no Instituto de Ensino Superior do
Amapá/IESAP
e na Universidade do Estado do Amapá/UEAP.
Contato: filosofodocotidiano@gmail.com
Artigo publicado originalmente no livro:
SCHULZ, Gerson Nei Lemos. Nietzsche: a educação contra a cultura.
In: SCHULZ, Gerson Nei Lemos. (Org.). Et al.
Educação: ser, saber, fazer.
Macapá/Porto Alegre: Alcance/Iesap, 2007.
O objetivo deste artigo é discutir o pensamento
de Nietzsche sobre educação e cultura e para isso nada melhor que citar a Terceira
Consideração Extemporânea intitulada: Schopenhauer como educador (1874),
onde o filósofo alemão começa a conceber suas idéias sobre cultura. Ela traz à
tona uma discussão a respeito da cultura alemã do século XIX, acusando-a de
estar doente e ser muito inferior à cultura grega e romana da Antigüidade, não
passando de uma caricatura daquelas.
Aprender a pensar: nas nossas escolas não se sabe mais o
que isto significa. Até mesmo na universidade, até mesmo entre os verdadeiros
sábios da filosofia, a lógica como teoria, como prática, como profissão começa
a desaparecer. (NIETZSCHE, 1999, § 7).
Friedrich Nietzsche - 1844-1900. |
Nietzsche estava abismado diante do
crescimento das escolas tecnicistas empreendidas pelo positivismo de Comte que
acreditava que o progresso e a riqueza das nações européias estava no
capitalismo industrial. A partir disso, constatava Nietzsche, surgia um
prejuízo crescente das formas clássicas de ensino, a moda entre os estudantes
era decorar o conhecimento, utilizá-lo como ferramenta apenas na indústria e
não como meio para o crescimento pessoal. "Qual a tarefa de toda instrução
superior? Converter o homem numa máquina". (Ibid., § 44).
Se o homem fosse convertido em
máquina, definitivamente não haveria mais filosofia, sendo que ela só existe se
existir o pensamento autônomo. E sem existir o pensamento, não poderia surgir
nenhum gênio da cultura que Nietzsche entendia como o indivíduo que consegue se
elevar acima da cultura de sua época para saná-la da doença.
Meu conceito
de gênio – Os grandes homens são como as grandes épocas, matérias explosivas,
imensas acumulações de forças. [...] Quanto a tensão chegou a ser muito grande
na massa, a mais casual irritação basta para se chamar à cena do mundo o gênio,
para chamá-lo à ação e aos grandes destinos [...] Entre o gênio e seu tempo
existe a relação que existe entre o forte e o fraco, entre o jovem e o velho (Apud DANELON, 2003).
Nessa época um exemplo de gênio – para
Nietzsche – era Arthur Schopenhauer (de quem mais tarde se afastou como também
se afastaria de Wagner que cogitou, por algum tempo ser outro modelo de gênio).
É por isso que ele
[...] traz à tona uma discussão que vale sublinhar: a
idéia de um modelo de educador, ou seja, a educação se faz somente se o
educando tiver como referência para sua educação um modelo de mestre no qual
ele possa assumir para si (Idem).
Para Nietzsche, Schopenhauer era esse
modelo de homem e de gênio porque foi o único a renegar o Ocidente com seu
pessimismo em O Mundo
como Vontade e Representação, servindo de modelo (no entender de Nietzsche)
não só para ele, como para toda a humanidade que devia elevar-se acima daquela
cultura ocidental contaminada pelo utilitarismo capitalista que queria
transformá-la em dinheiro – como queria o positivismo – e criticá-la. Logo:
A minha avaliação de um filósofo depende da medida em que
ele é capaz de dar um exemplo [...] Portanto, eu queria dizer que a filosofia
na Alemanha deve sempre mais desaprender a ser 'ciência pura' e, justamente,
este é o exemplo do homem Schopenhauer (Apud. DANELON, 2003).
Por isso Nietzsche se encanta com
Schopenhauer logo quando toma em mãos O Mundo como Vontade e
Representação, essa obra despertou nele uma profunda admiração pelas idéias
contrárias aos modismos culturais da época. Nietzsche chamava essa cultura de
"filistéia".
A cultura filistéia foi descrita por
Nietzsche numa carta a Carl von Gesdorff na noite de 11 de abril de 1869, onde,
em síntese, ele diz que está indo trabalhar na "instituição
universitária", descrita por ele como um ambiente pesado, cheio de
obrigações e onde é vendido o conhecimento, o que o transformará – conclui
entristecido – num 'filisteu da cultura', isto é, num homem especializado (Cf.
DIAS, sd). Para Scarlet Marton os filisteus da cultura são:
[...] aqueles que, estritos cumpridores das leis e dedicados executores
dos deveres, execravam a liberdade gozada pelos estudantes. O 'filisteu' era
uma personagem de bom senso, inculta em questões de arte e crédula na ordem
natural das coisas. Usava o mesmo raciocínio para abordar as riquezas mundanas
e as riquezas culturais [...] Os filisteus da cultura além de não serem cultos,
têm a ilusão de sê-lo. Incapazes de criar, limitam-se a imitar ou consumir.
Aliás, a imitação é apenas outra forma de consumo. Fizeram da cultura algo
venal, puseram-na à venda, submeteram-na às leis que regem as relações comerciais
'quem e quantos consomem' é a questão fundamental a ser respondida (Apud.
MARTON, 1982).
Arthur Schopenhauer |
Mais adiante quando rompe com
Schopenhauer, Nietzsche dirá: "O último filósofo, é assim que me nomeio,
pois eu sou o último homem. Ninguém me fala a não ser exclusivamente eu, e a
minha voz chega-me como a de um moribundo". (NIETZSCHE, sd. § 87). Isto é,
quando amadurece o pensamento nietzschiano é ele quem dará exemplos. No livro Ecce
Homo Nietzsche declara que a sua tarefa enquanto filósofo é educar e
derrubar ídolos: "Eu não construo novos ídolos, os velhos que aprendam o
que significa ter pés de barro. Derrubar ídolos (minha palavra para 'ideais') –
isto sim é meu ofício" (NIETZSCHE, 1995, § 2)[1]
[1] Parece que levando
em consideração esse ponto de vista nietzschiano (o dar exemplos associado ao
sofrimento) fica fácil imaginar porque sua vida foi tão atribulada e porque
parece que em certas ocasiões (em suas andanças sem casa fixa nem pátria)
Nietzsche foi realmente um "moribundo".
A
transvaloração da cultura através da educação
As idéias apresentadas em Sobre o
Futuro de Nossos Estabelecimentos de Ensino (que se trata de uma palestra
onde Nietzsche narra uma longa conversa com um amigo, um filósofo e um
acompanhante) é a metade do caminho para se compreender o Nietzsche filósofo e
professor. Ali ele aprofunda o que entende por cultura e educação e o que
entende por pensamento crítico.
– Essa 'malignidade' é reencontrada em todo professor do novo, em todo
pregador de novas coisas, a mesma ‘malignidade’ que desacredita o conquistador,
ainda que se manifeste mais sutilmente e não mobilize imediatamente o músculo –
o que faz, por outro lado, que desacredite com menos força! O novo, de qualquer
forma, é o mal, pois é o que quer conquistar, derrubar os limites, destruir as
antigas crenças; só o velho é o bem! Os homens de bem de todos os tempos são
aqueles que plantam profundamente velhas idéias a fim de fazê-las frutificar,
esses são os cultivadores do espírito. Mas todo terreno acaba por se esgotar, é
preciso que o arado do mal o revolva (NIETZSCHE, 1976, p. 41).
Quem é o professor do novo? Para ele é
o filósofo, mas não no sentido absoluto. Nietzsche quis dizer que todos os
profissionais deveriam pensar como filósofos até se tornarem um, pois, de
acordo com a teoria do gênio de Nietzsche, este não é predestinado a nascer
filósofo. Portanto, a transformação da cultura deve começar por quem lida com
ela, por professores e alunos. O estudante deve sempre buscar além daquilo que
o professor ministra em sala de aula. Somente assim ele poderá percorrer o
caminho para se superar a si e ao próprio professor, escapando da mediocridade.[2]
Com essa doutrina educacional (antropológica)
Nietzsche supõe possível criar um novo projeto de homem, realizando uma crítica
à modernidade cartesiana que separou natureza e homem em res cogitans e res
extensa, privilegiando o mecanicismo. Para Nietzsche foi essa idéia de separação mecânica operada no
homem (privilegiando as idéias inatas, portanto o intelecto) que fez os
indivíduos renegarem outras faculdades humanas como sentimentos e instintos.
Resgatar as faculdades instintivas e sentimentais
sem negar a razão é o projeto de Nietzsche. Por isso ele propõe a
transvaloração dos valores da lógica aristotélica (lógica do terceiro excluído),
da moral cristã (moral das massas que se deixam guiar louca e cegamente por um
líder, o messias, na esperança de ganhar o mundo do além) e o rompimento epistemológico
com a ciência de sua época (que para ele era a 'gaia ciência'). Assim ele afirma
que o Universo e os fatos – como queria o Positivismo – não têm sentido e, por
isso mesmo, estão condicionados ao seu tempo e aos olhos de quem os lê, e não à
eternidade, não sendo verdades absolutas.
Nietzsche também propõe transvalorar a
organização sócio-cultural e política de seu tempo, assim é possível afirmar
que ele não concordava com o modo de produção industrial capitalista como
afirma no aforismo 21 de A Gaia Ciência. Nietzsche também não é a favor
da democracia quando a considera uma decadência no sentido de que ela adula o Estado
(Prussiano) que pensava em si e não na cultura. Também não era a favor do
autoritarismo, visto que detestava as políticas de massa porque, para ele, elas
diluem o indivíduo. Também não se fez simpático ao socialismo nem ao anarquismo,
como se observa nos aforismos 34 e 473 das obras: Crepúsculo dos Ídolos e
Humano, demasiado humano, respectivamente, embora profetize que o
socialismo iria acontecer e tenha incitado os trabalhadores a lutar por seus
direitos.
Josef Stalin 1879 - 1953 |
Sobre o socialismo, ele temia que
realmente se tornasse uma ditadura de algum líder mais exaltado e os
trabalhadores, escravos do Estado. Fato que, ironicamente, ocorreu no chamado "socialismo
real" Soviético sob o comando de Stálin.
Por fim, não se pode afirmar que ele fosse
um liberal quando ressalta que
[...] a mais forte espécie de homem que
houve até agora, as comunidades aristocráticas ao modo de Roma e Veneza,
entendiam liberdade exatamente no sentido que eu entendo a palavra liberdade:
como algo que se tem e não se tem, que se quer, e que se conquista [...]' (NIETZSCHE,
1974b, p. 349).
Assim se constata que Nietzsche apoiava
um governo de aristocratas (o governo dos melhores), mas um governo formado por
homens "geniais" (que se destacassem por sua inteligência) e não porque
pertencessem à classe mais abastada.
Em relação à educação ele afirma:
[...] procede geralmente desta maneira: tentar determinar no indivíduo,
com o engodo de inúmeras vantagens, maneira de pensar e agir que, tornada
finalmente hábito, instinto, paixão, dominará nele e sobre ele, contra
seus interesses supremos, mas em benefício de todos. Quantas vezes não observei
que se o trabalho devotado, o zelo cego atribuem a riqueza, as honras fazem,
por outro lado, com que os órgãos percam a sensibilidade que lhe permitiria
fruir essa riqueza [...] Quantas vezes não constatei que esse remédio radical contra
o aborrecimento e as paixões amolece os sentidos e torna o espírito rebelde a
toda nova excitação (a mais laboriosa das épocas, a nossa, não sabe o que fazer
de seu trabalho e de seu dinheiro, a não ser cada vez mais trabalho e mais
dinheiro; [...] Adiante, deveremos ter 'netos'... A educação logra sucesso,
qualquer virtude individual se torna utilidade pública e desvantagem privada
tendo em vista o fim supremo do indivíduo; consegue apenas um enfraquecimento
do espírito e dos sentidos [...],'Deves procurar teu proveito pessoal mesmo à
custa dos demais’, apregoam portanto com o mesmo fôlego, o 'tu deves' e o 'tu
não deves' (NIETZSCHE, 1976, p. 55-56).
A partir dessa citação, pode-se ter
uma idéia do que Nietzsche pensa que deveria ser a educação. O oposto do que
ele descreve. Isto é, uma forma de pensamento crítico (uma reflexão) sobre a
cultura dada (isto é, construída antes do indivíduo nascer e transmitida a ele
pelas instituições civis ou religiosas). Incluindo os maiores valores
estabelecidos: "Deus" e o "Bem" que, para Nietzsche, foram
construções humanas e não divinas. Logo, o modelo de educação apregoado pelo
filósofo é humanista e deve permitir que o indivíduo libere seus instintos,
suas habilidades, talentos (subjetividade).
Os fatos não devem ser ensinados ao aprendiz da forma como o Positivismo ensinava (tecnicista/mecânica/repetitiva), mas deve, isto sim, apresentar como e onde o indivíduo poderá utilizar aquele conhecimento adquirido em sua vida prática, pública e privada. Portanto, a educação, em última instância, deve ser estética, permitindo ao homem desenvolver a criatividade sobre o fato. Só assim poderá se revelar algum gênio e, então, para Nietzsche, o homem escapará do niilismo, do sem sentido e da mediocridade causados pela vida maquinal, automática que o modo de vida proposto pela Modernidade trouxe. Esta é sua idéia filosófica do dizer "não" para a cultura Ocidental.
Nietzsche assinala o
equívoco em se pensar que cultura é trabalho árduo, apenas. Para ele a cultura
é o aprendizado não utilitarista de tudo o que o ser humano realizou na
história, sem desvincular-se da vida real. A cultura não é uma erudição, mas um
cabedal de conhecimentos vivos que deve ser ensinada de forma tal que os
indivíduos possam criar coisas novas sobre as que aprendem. Nietzsche considera
a produção da cultura industrializada[3]
moda meramente intelectualista, uma farsa. Assim, é tomando esse pressuposto que
se pode explorar a possibilidade de construir hoje uma pedagogia crítica do
dizer "não" aos modismos, aos intelectualismos, aos capitalistas da
cultura e até mesmo às ideologias do Estado que defendem a idéia de que a
educação é um serviço, portanto, uma mercadoria.
A partir daí pode-se pensar a idéia que o verdadeiro estudante, tal qual o verdadeiro mestre, também pode ser
autêntico dentro de sua escola sendo um crítico da própria cultura e auxiliando
a podá-la de seus desvios utilitaristas patrocinados pelas classes econômicas
dirigentes (aristocracia burguesa) que têm interesse em manter essa lógica de
utilidade sobre tudo o que é produzido para transformá-la em mercadoria e gerar
lucro puro e simples.
Para Nietzsche o niilismo ante a vida
levou boa parcela da humanidade a crer que a história acabou e nada mais pode
ser mudado. A idéia de massificação ganha espaço e surge o conceito do padrão
(todos devem ser iguais). Mas com isso aparece um "mal-estar" dentro
do núcleo da civilização porque as coisas perdem o sentido (niilismo). Não há
mais o que inventar, o que fazer. A vida fica autômata. (SCHULZ, 2003, p.
137)
[3] Nietzsche criticava a formação
meramente técnica de seu tempo, acusando-a de empobrecer a verdadeira cultura.
Para ele o modelo que representa o ensino dos bacharelados (na Europa
bacharelado equivale ao liceu) sugere uma cópia do processo industrial onde as
mercadorias são produzidas em
série. Da mesma forma o modelo de escola também produz
indivíduos moldados para o Estado, para exercer a cidadania de forma igual, cumprindo
mais deveres que lutando por direitos, pois todos têm os mesmos saberes e
mesmas práticas morais e éticas. Dessa forma a cultura massifica-se caindo ela
mesma no niilismo.
E como Nietzsche entende a cultura de seu tempo?
As águas da
religião refluem e deixam para trás pântanos ou poças; as nações se separam
outra vez com a maior das hostilidades e querem esquartejar-se. As ciências,
praticadas sem nenhuma medida e no mais cego laissez faire, estilhaçam-se e
dissolvem toda crença firme; as classes cultas e os Estados civilizados são
varridos por uma economia monetária grandiosamente desdenhosa. Nunca o mundo
foi mais mundo, nunca foi mais pobre em amor e bondade. As classes eruditas não
são mais faróis ou asilos, em meio a toda essa intranqüilidade da mundanização;
elas mesmas se tornam dia a dia mais intranqüilas, desprovidas de pensamento e
de amor. Tudo está a serviço da barbárie que vem vindo, inclusive arte e a
ciência de agora. O homem culto degenerou no pior inimigo da cultura, pois quer
negar com mentiras a doença geral e é um empecilho para os médicos. (NIETZSCHE,
1974b, trechos dos aforismos 4 e 6. p. 81-4).
Aqui surge a idéia do filósofo como
médico da civilização. Para Nietzsche é o filósofo que tem o papel
preponderante de alertar as demais categorias profissionais (eruditos, médicos,
cientistas) para os perigos da extirpação do conhecimento e sua fragmentação em especializações. Para
o filósofo alemão não é especializando o homem aos "pedaços"
(fragmentos) que ele saberá o todo, como se o todo fosse desprovido de sua
própria totalidade, mas unindo o homem com seus vínculos fortes (instinto e
paixão) que ele poderá tornar-se filósofo e ter o verdadeiro amor à sabedoria.
Transformando conhecimento em sabedoria, só assim se poderá criar uma
"nova cultura".
Conclusão
Nietzsche tenta transvalorar os
valores da cultura européia de seu tempo. Cultura esta que respingou em suas
colônias, dentre elas o Brasil cujas universidades se baseiam nos modelos
francês e alemão do século XIX. Para ele, especialmente, a cultura massificada
do Positivismo que procurava fazer com que todos tivessem acesso às mesmas
informações ao mesmo tempo, produzia autômatos incapazes de refletir sobre suas
ações, apenas operários capazes de executar tarefas. Para Nietzsche a
humanidade, a partir desse modelo, caiu na mediocridade, transformando as
atividades do cotidiano em regras de vida, criando a "cultura", mas
uma cultura de massas.
Nietzsche pensava que, em longo prazo,
estas atividades mecânicas, a própria visão mecanicista do mundo, faria a vida
dos homens perder o sentido, pois este modelo queria criar homens capazes de imitar
as máquinas que têm grande capacidade de produção. Isso faria com que toda a
atividade humana se transformasse em mercadoria. Se a arte e a cultura também se massificassem
não seriam mais formas de libertação, de vivências, de festejar a vida. Seriam
apenas objetos de consumo cotidiano, sendo relegadas à condição de artigo de
luxo, de prazer. Um exemplo disso, para ele, foi o modismo crasso em que acabou
a música erudita de Richard Wagner após a fundação do teatro em Byreuty.
Por isso Nietzsche era extremamente
contrário ao Positivismo, para ele o perigo em se massificar a cultura,
popularizar o clássico, era justamente torná-lo o "padrão", o
correto, o bom e o belo, eliminando a possibilidade do diferente, do novo e do
esteticamente original. Da própria criação.
Bem, pode-se encerrar esta reflexão afirmando
que Nietzsche não previu o surgimento da televisão e da internet que leva a
informação em tempo real para bilhões de pessoas todos os dias, o que,
aparentemente, elimina o risco da informação ser privilégio de poucos como na
Idade Média. Mas, por outro lado, esse mesmo poder criou a indústria cultural
que manipula o homem, conforme diz Adorno. Hoje a informação massificada nos
meios de comunicação molda a cultura, diz o que é certo ou errado. Em outras
palavras, quem não tem acesso às mídias não pode expressar sua diferença.
Talvez tenha acontecido algo além do
que Nietzsche imaginara, em alguns casos. Hoje o diferente quer se tornar o
padrão, alguns grupos de homossexuais dizem que o mundo é dos "gays"
(como se não houvesse mais espaço para quem não é). Consomem-se imagens vazias
(como a pornografia comercial que maquia a realidade para satisfazer a cobiça
pela beleza e pelo sexo sem efetividade). Alguns grupos com discursos
totalizantes pensam controlar a verdade: partidos políticos radicais, igrejas radicais.
Celebra-se o exótico, principalmente
aquilo que é estético, tanto que algumas vezes a novidade presente no que é caótico
ganha espaço porque afronta o antigo, considerado tradicional, para
desmanchar-se logo depois num evento pirotécnico carregado de misticismo mágico
presente nos shows de rock, nos jogos de futebol, nos shows da fé, na apologia
às drogas.
A nova cultura (como a música, o
cinema) é substituída tão rapidamente pelo mais novo que mal é aproveitada. Em
alguns casos a crítica da crítica tem mais valor que a obra original. Cultura e
educação são direcionadas para campos opostos onde a cultura (financiada pelo
capital) impõe o que as escolas (educação) devem ensinar, levando a educação que
não estiver em função da cultura do mercado ao ostracismo.
REFERÊNCIAS
DANELON,
Márcio. Nietzsche Educador: Uma Leitura de "Schopenhauer como
Educador". Unimep. http://www.marabrum.hpg.ig.com.br/artigo15.html,
acessado em 15/03/2003.
DIAS, Rosa Maria. Nietzsche
Educador. São Paulo: Editora Scipione. S.d
MARTON, Scarlet. Nietzsche. São
Paulo: Brasiliense, 1982.
______. Crepúsculo dos Ídolos.
4. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1999.
______. Crepúsculo dos Ídolos. In:
Nietzsche. v. XXXII. 1.
ed. São Paulo: Abril, 1974a.
(Os pensadores)
______.
Considerações Extemporâneas. In: Nietzsche. v.
XXXII. 1. ed. São Paulo: Abril, 1974b. (Os pensadores)
______. O último filósofo,
In: O livro do Filósofo. Porto: Rés, Sd.
SCHULZ,
Gerson N. L. Nietzsche e a educação: uma perspectiva de transvaloração para
a pós-modernidade. Pelotas: 2003. Dissertação de Mestrado (Educação)
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