GERSON NEI LEMOS SCHULZ
Recentemente o Conic (formado por 5 igrejas cristãs mais a Católica), lançou a Campanha da Fraternidade (CF). Este ano o tema é "Economia e Vida". Segundo o monge M. Barros (no Brasil de Fato, 18/02) a CF é a favor da economia solidária e condena o "consumismo".
Para ele a religião deve se intrometer na economia. Citando o relatório da ONU (Metas do Milênio), diz: "em 2008 os bancos ganharam mais dinheiro do que todas as nações pobres do mundo em 50 anos. Em 2009 as instituições financeiras ganharam cerca de US$ 35 bilhões. (Barros, texto da CF, p. 35)"
O mesmo texto afirma que no Brasil há concentração de terras nas mãos de poucas famílias/empresas com 3% das propriedades de mais de mil hectares ocupando 56,7% das terras agricultáveis, enquanto 48% de famílias pobres não têm onde plantar. Por isso ele justifica que a CF proponha: incluir entre os direitos (na Constituição) a alimentação adequada a todos; erradicar o analfabetismo; combater o trabalho infantil e exigir políticas econômicas redistributivas dos bens e das riquezas, chegando-se à "economia solidária". Mas será que isso não é pura demagogia?
Pior, é relativo o conceito de "consumismo" e criticá-lo superficialmente é prejudicar o país e a produção de capitais e empregos na pós-crise. Assim cabe a pergunta: a igreja católica pratica economia solidária? E outra: o Banco do Vaticano não entrou na conta da ONU sobre as instituições que lucraram em 2009?
De acordo com o vaticanista John Allen Jr. (site da universidade Unisinos) o orçamento anual do Vaticano é de US$ 300 milhões. São três suas fontes de renda: 1°) Doações de igrejas locais e conferências de bispos no mundo, pois as dioceses entregam dinheiro ao Vaticano. 2°) Investimentos. 3°) As propriedades: o Vaticano teria 700, sobretudo em Roma, e aluga a maioria delas a terceiros. O que soma um patrimônio de US$ 770 milhões. Fora o que tem em outros países como nos EUA onde a Universidade Notre Dame fecha o orçamento em mais de US$ 1 bilhão.
Por outro lado, estes dados são contestados pela Revista Americana "Time" que diz que o movimento do Banco do Vaticano chega a US$ 15 bilhões de dólares e ele investe em aço, químicos, seguros, ações e construção civil, ramos econômicos nada solidários! É também no Jornal do Brasil de 03/09/2007 que Leonardo Boff cita a pesquisa da Adista (2/6/2007) e afirma: "A especulação imobiliária e financeira rendeu ao Vaticano, em 2004-5, €$ 1,47 bilhão." Dado semelhante aponta a revista italiana Espresso (2007) quando mostra que o Vaticano fechou 2006 com um superávit de €$ 2,4 milhões. Sem falar que a igreja não paga imposto, por conseguinte, ocorre que os hotéis do Vaticano em Roma oferecem preços bem abaixo dos da concorrência. Que solidariedade!
E a propriedade artística? De acordo com o museólogo W. Tavares na revista Mundo Estranho (ed. 96) os valores são: Teto da Capela Sistina, R$ 1,39 bilhão; A Última Ceia, R$ 913 milhões; A Escola de Atenas, R$ 859 milhões. Patrimônios da humanidade, mas quem usufrui é a igreja católica.
Por fim, caro leitor: como merece ser chamada a igreja que fala em fraternidade, em ajuda aos pobres, mas cuja maioria dos sacerdotes desfruta o conforto da milenar e rica estrutura clerical? Prefiro que você mesmo conclua.
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