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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

EM QUE MUNDO VIVEMOS?

Gerson N. L. Schulz




Você já se perguntou em que mundo vive? Já se perguntou em que período histórico estamos? Já se perguntou por que atualmente é possível guerras de um grupo contra um Estado e não apenas entre Estados? Já se perguntou por que é possível a globalização?

Uma resposta - talvez - culturalmente satisfatória seja que estamos na Pós-modernidade. A pós-modernidade é um período histórico em discussão que nega o projeto iluminista de crença cega na ciência, no Estado, na sociedade industrial-militar burguesa, na luta entre blocos ideológicos (capitalismo, socialismo), na luta entre classes sociais e etc. Ouso dizer que "o projeto pós-moderno é não ter projeto".



Para Tomaz Tadeu da Silva em Teoria do Currículo (2005), os pós-modernos não acreditam na efetividade da ideia moderna de liberdade, nem no capitalismo e nem no socialismo. Não crê que o Estado racional seja capaz de criar e defender leis justas, e garantir a igualdade entre todos. Para este autor, na sua ânsia de ordem e controle, a perspectiva social moderna busca elaborar teorias e explicações que sejam universais, que reúnam num único sistema a compreensão total do funcionamento do universo e da sociedade. Para os pós-modernos o pensamento moderno é particularmente adepto das metanarrativas (positivismo, socialismo, estruturalismo), que são a expressão máxima da vontade de domínio e controle.


Implosão do Pruitt-Igoe, de St Louis, em 1972.
Conjunto de edifícios altamente racional e funcional
mas não estético para os padrões pós-modernos
Na prática, os pós-modernos denunciam que o modelo iluminista que desejava um mundo altamente cientificizado, onde até a família deveria ser exemplar, formada por marido, esposa e filhos (onde a mulher deveria ser 'virgem' para garantir a legitimidade da prole). Onde o Estado era "justo" porque permitia aos cidadãos partirem do "ponto zero" (liberalismo econômico idealista) e, por sua própria competência (meritocracia), conquistarem um lugar ao sol, restando aos "incompetentes" a pobreza e a exclusão. Onde a burocracia é garantia de eficiência e controle sobre tudo e todos. Onde a ciência é redentora, acarretando benefícios à saúde, economia e etc., faliu.


Não se é livre, como pensavam os modernos. Marx, Nietzsche, Freud, Darwin mostram que o homem está atrelado a uma estrutura material que determina o pensar; que a religião cristã é apenas crença ideológica que tem fundamento em si mesma, portanto, não tendo fundamento algum; que o homem não é anjo caído mas um primata evoluído e que não decide tudo racionalmente porque há dentro dele uma parte irracional (inconsciente) que tem grande poder sobre as decisões.


Nietzsche: crítico ferrenho da modernidade.
A pós-modernidade não apenas tolera mas privilegia o hibridismo de culturas, estilos e modos de vida. Tolera outras formas de sexualidade. A "família tradicional" convive com a família "gay" ou com a família de pais e mães solteiros. É preferível aquilo que é local e contingente ao que é universal. Em ciência, inclina-se para a incerteza e a dúvida. Ética e estética se mesclam, confundem. Os novos valores são locais e surgem em função não de uma objetividade, mas dos sentidos, do princípio de prazer. Nega-se o "penso, logo existo" de René Descartes (Discurso do Método, 1648) e abraça-se o "sinto, logo existo" de Daniel Goleman (Inteligência Emocional, 1996).


Enfim, os pós-modernos dizem que o sonho moderno de mudar o mundo por meio da liberdade burguesa ou do socialismo, morreu. O pensamento crítico desaparece, cede lugar ao pós-crítico que diz que o máximo que alguém pode mudar é sua existência. Então, instituições modernas como governos, tribunais, os próprios valores, perdem o valor. 

As ONGs são exemplo disso, pois são tentativas particulares de "mudar" uma nesga de realidade. No lugar dos valores ético/morais, surge o desvalor.

3 comentários :

  1. Olá,

    Bacana seu texto, queria saber mais sobre o que é pós-modernidade.
    CEAP

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  2. Gostaria de ver o contraponto com a pos-modernidade a partir de Habermas.
    Angelo Silva - UEAP

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  3. Boa pedida para um artigo, obrigado pela sugestão.
    Abraço.

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